segunda-feira, 28 de julho de 2014

Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens) - F. W. Murnau , 1922



Poster não-oficial.




        O Expressionismo Alemão foi um estilo cinematográfico (e também artístico, de modo geral), de negação ao mundo burguês, que alcançou seu auge na década de 1920. Suas características mais marcantes eram as distorções da realidade através de personagens e cenários (nítida influência de Van Gogh), realizadas pelo uso de maquiagens, recursos de fotografia e pinturas.

            Das Cabinet des Dr. Caligari (O Gabinete do Dr. Caligari) – Robert Wiene, 1920; Der Müde Tod (A Morte Cansada) – Fritz Lang, 1921; Schloß Vogelöd (O Castelo Maldito) – F. W. Murnau, 1921; Dr. Mabuse, der Spieler (Dr. Mabuse) – Fritz Lang, 1922; Faust: Eine deutsche Volkssage (Fausto) – F. W. Murnau -  1920; e Metropolis (Metrópolis) – Fritz Lang, 1927, são considerados, ao lado do nosso destaque de hoje, algumas das maiores obras produzidas por este movimento.

            Friedrich Wilhelm Murnau, ou simplesmente F. W. Murnau ( 1888 – 1931), foi um dos maiores nomes do Expressionismo Alemão e do cinema mudo em geral. Diversas de suas obras são consideradas como clássicos do cinema, porém, nenhuma ganhou tanto destaque quanto Nosferatu.


F. W. Murnau.

            Produzido em 1922, a obra prima de Murnau, consegue, ainda nos dias atuais, nos assustar e nos surpreender. Baseado no livro Drácula, de Bram Stoker (1897), Nosferatu é entendido como a mais surpreendente adaptação da obra, mesmo que com os direitos de uso negados pela viúva do autor.

            Diante da proibição, o caminho visto por Murnau foi improvisar: O diretor manteve o enredo central da obra de Stoker, alterando o nome dos personagens e dos cenários.

            Drácula se tornou Conde Orlok (Max Schreck), uma das mais fiéis representações cinematográficas do vampiro. Alto, esguio, com orelhas, nariz e dentes pontiagudos, Murnau, através de Schreck consegue representar com sucesso a figura do personagem macabro de Stoker. Na verdade, o horror da obra está centrado no protagonista, que é a representação do mal e do estranhamento sugerido pela mítica figura do vampiro. Não existe, no filme, a separação do mal e sua personificação.

Max Schreck como o Conde Orlok.

            No início do filme somos apresentados a Thomas Hutter (Gustav von Wangenheim), um jovem agente imobiliário que é enviado pelo seu chefe para a Transilvânia, para negociar a venda de um imóvel em frente à sua casa junto de um cliente chamado Conde Orlok.

          Thomas, inicialmente, teme sua partida, mas logo acaba por encontrar uma paisagem serena, diferente daquela que esperava. A única coisa estranha era o comportamento dos locais ao ouvirem o nome de Orlok.

Thomas Hutter (Gustav von Wangenheim) e Orlok.

O cenário paradisíaco apresentado inicialmente por Murnau logo ganha contornos perturbantes, quando percebemos a reação assustada dos animais perante o despertar de Nosferatu. Hutter ignora todos os sinais negativos presentes neste prelúdio inicial, tomando a atitude imprudente de seguir em frente com o sua missão.

A passagem do jovem corretor pelo castelo de Orlock, irá transformar-se num enorme pesadelo quando este conhece esta sombria figura. A relação entre ambos é marcada por uma cordialidade inicial, que é perturbada pela célebre cena em que Hutter corta acidentalmente o dedo e Orlok apresta-se a chupar o seu sangue.



 Com a ajuda de um pequeno livro sobre vampiros, Hutter começa a juntar uma série de pistas sobre o Conde Orlok e descobre que este é Nosferatu, um ser sobrenatural, que necessita de alimentar-se do sangue das suas vítimas para poder manter-se vivo. Estas pistas são confirmadas quando o corretor encontra nas masmorras do castelo um caixão coberto de terra, cujo interior está habitado por um cadáver , que perante o olhar desesperado de Hutter.

Orlock tem pressa de carregar vários caixões cheios de terra, em direção ao barco que o irá transportar para a calma cidade de Wisborg. Nosferatu transporta consigo a morte, a peste, as sombras, e a tirania, causando a loucura e o desejo pela morte dos tripulantes a bordo da embarcação. A chegada do barco à cidade é encarada com grande mistério por todos, visto que a embarcação chega vazia à cidade.




 Ellen Hutter (Greta Schröder), curiosa sobre os misteriosos acontecimentos vem ocorrendo desde a partida do marido para a Romênia, descobre, através do livro sobre criaturas da noite, que poderá ser a única salvação de Hutter e do povo de Wisborg contra Nosferatu, visto que apenas uma mulher com um coração puro poderá atrair o vampiro e fazê-lo sucumbir perante a luz do dia.

Cativante, assustador e emocionante. A obra prima de Murnau é, com certeza, um dos maiores clássicos da humanidade.





Repercussão Contemporânea:

Grandes esforços foram aplicados para o lançamento do filme. Pouco antes da estreia, os responsáveis publicaram na vigésima primeira edição da revista Bühne und Film ("Palco e Filme") uma matéria com o resumo da obra, fotos de cenas e dos bastidores, relatórios e análises da produção, além de um ensaio sobre Vampirismo.

A pré-estreia de Nosferatu ocorreu no dia 4 de março de 1922 no salão de mármore do Jardim Zoológico de Berlim na chamada Festa do Nosferatu, para a qual foi pedido aos convidados o uso de roupas à moda Biedermeier. Um prólogo escrito por Kurt Alexander, inspirado em Vorspiel auf dem Theater do poeta alemão Goethe, abriu a projeção do filme, enquanto a orquestra Otto Kermbach tocava a trilha sonora à condução do compositor.  A estreia oficial, por sua vez, ocorreu em 22 de março do mesmo ano.



O filme foi bem visto aos olhos do público e crítica de sua época, porém alguns criticaram as técnicas de enquadramento e luz.

A revista Film-Kurier de 6 de março de 1922 criticou o fato do vampiro ter sido retratado de forma tão humana e ter sido tão bem iluminado, o que não teria um efeito realmente assustador:

"O que pode ser uma vantagem para filmes fiéis à realidade precisa ser evitado em filmes que tratam de ficção. Neste caso, o artista deve priorizar a vagueza das nuances. Porque, com uma iluminação muito boa, qualquer elemento aterrorizante perde de uma vez todo seu terror." Zitiert in: Hans Helmut Prinzler (Hrsg.): Murnau – Ein Melancholiker des Films. Stiftung Deutsche Kinemathek, Bertz, Berlin 2003, ISBN 3-929470-25-X, p. 131.




Lenda sobre o Filme:

A palavra alemã schreck significa “susto, espanto”. Fundamentado nisso, no desconhecimento de sua pregressa carreira de ator e na repercussão de sua antológica interpretação e perfeita caracterização como Conde Orlok, muitos pensaram que Max Schreck era, na verdade, um vampiro que fora contratado por F. W. Murnau para dar maior veracidade à personagem e, assim, produzir uma obra-prima atemporal. O pagamento seria o direito de morder o pescoço e chupar o sangue da grande estrela do filme, a atriz Greta Schröder, na cena final.

Essa lenda serviu de inspiração para que Steven A. Katz elaborasse o roteiro de A sombra do vampiro (Shadow of the Vampire), filme de 2000, dirigido por E. Elias Merhige.

Nessa obra, John Malkovich interpreta um atormentado F. W. Murnau, que se divide entre a direção da equipe e o controle dos impulsos tenebrosos de Max Schreck, um vampiro que ele contratara para dar maior autencidade ao papel do Conde Orlok. O sublime desempenho de Willem Dafoe, que interpretou um bizarro Max Schreck, rendeu-lhe, como ator coadjuvante, uma indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro de 2001, além de algumas premiações.







Curiosidades:

Nosferatu é a primeira versão da clássica história do Conde Drácula nos cinemas;

Por não pagar os direitos autorais da história, Murnau perdeu a causa de um processo para a esposa de Stoker, e dessa forma foi proibida a divulgação do filme, pouco depois de seu lançamento. Esse processo resultou na apreensão e destruição da maioria das cópias;
Acredita-se que a única cópia original completa de Nosferatu pertence ao colecionador Jens Geutebrück;

Nosferatu foi refilmado uma outra  vez, em Nosferatu - O Vampiro da Noite (Nosferatu: Phantom der Nacht - Werner Herzog, 1978). Além disso, o romance de Stoker obteve inúmeras adaptações cinematográficas. As mais famosas são: Drácula (Drácula - Tod Browning, 1931 )  e Drácula de Bram Stoker (Bram Stoker's Dracula - Francis Ford Coppola, 1992).




Onde comprar:




A melhor edição em DVD no Brasil, foi lançada pela Classic Line e pode ser facilmente encontrada nos links abaixo:


Não há edição em Blu-ray.

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Ficha técnica:


Nosferatu - eine symphonie des grauens, Alemanha, 1922, mudo, preto e Branco.

Direção: F. W. Murnau.

Roteiro: Henrik Galeen, baseado no romance "Dracula", de Bram Stoker (não-creditado).

Produção: Enrico Dieckmann; Albin Grau.

Música: Hans Erdmann.

Fotografia: Fritz Arno Wagner e Gunther Krampf.

Direção de Arte: Albin Grau.

Figurino: Albin Grau.

Elenco: Max SchreckAlexander Granach,Greta Schroder, Gustav von Waggenheim, G. H. Schnell e Ruth Landshoff.

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