Poster não-oficial.
Das Cabinet des Dr. Caligari (O Gabinete do Dr. Caligari) – Robert Wiene, 1920; Der Müde Tod (A Morte Cansada) – Fritz Lang, 1921; Schloß Vogelöd (O Castelo Maldito) – F. W. Murnau, 1921; Dr. Mabuse, der Spieler (Dr. Mabuse) – Fritz Lang, 1922; Faust: Eine deutsche Volkssage (Fausto) – F. W. Murnau - 1920; e Metropolis (Metrópolis) – Fritz Lang, 1927, são considerados, ao lado do nosso destaque de hoje, algumas das maiores obras produzidas por este movimento.
Friedrich Wilhelm Murnau, ou simplesmente F. W. Murnau ( 1888 – 1931), foi um dos maiores nomes do Expressionismo Alemão e do cinema mudo em geral. Diversas de suas obras são consideradas como clássicos do cinema, porém, nenhuma ganhou tanto destaque quanto Nosferatu.
F. W. Murnau.
Produzido em 1922, a obra prima de Murnau, consegue, ainda nos dias atuais, nos assustar e nos surpreender. Baseado no livro Drácula, de Bram Stoker (1897), Nosferatu é entendido como a mais surpreendente adaptação da obra, mesmo que com os direitos de uso negados pela viúva do autor.
Diante da proibição, o caminho visto por Murnau foi improvisar: O diretor manteve o enredo central da obra de Stoker, alterando o nome dos personagens e dos cenários.
Drácula se tornou Conde Orlok (Max Schreck), uma das mais fiéis representações cinematográficas do vampiro. Alto, esguio, com orelhas, nariz e dentes pontiagudos, Murnau, através de Schreck consegue representar com sucesso a figura do personagem macabro de Stoker. Na verdade, o horror da obra está centrado no protagonista, que é a representação do mal e do estranhamento sugerido pela mítica figura do vampiro. Não existe, no filme, a separação do mal e sua personificação.
Max Schreck como o Conde Orlok.
No início do filme somos apresentados a Thomas Hutter (Gustav von Wangenheim), um jovem agente imobiliário que é enviado pelo seu chefe para a Transilvânia, para negociar a venda de um imóvel em frente à sua casa junto de um cliente chamado Conde Orlok.
Thomas, inicialmente, teme sua partida, mas logo acaba por encontrar uma paisagem serena, diferente daquela que esperava. A única coisa estranha era o comportamento dos locais ao ouvirem o nome de Orlok.
Thomas Hutter (Gustav von Wangenheim) e Orlok.
O cenário paradisíaco apresentado inicialmente por Murnau logo ganha contornos perturbantes, quando percebemos a reação assustada dos animais perante o despertar de Nosferatu. Hutter ignora todos os sinais negativos presentes neste prelúdio inicial, tomando a atitude imprudente de seguir em frente com o sua missão.
A passagem do jovem corretor pelo castelo de Orlock, irá transformar-se num enorme pesadelo quando este conhece esta sombria figura. A relação entre ambos é marcada por uma cordialidade inicial, que é perturbada pela célebre cena em que Hutter corta acidentalmente o dedo e Orlok apresta-se a chupar o seu sangue.
Com a ajuda de um pequeno livro sobre vampiros, Hutter começa a juntar uma série de pistas sobre o Conde Orlok e descobre que este é Nosferatu, um ser sobrenatural, que necessita de alimentar-se do sangue das suas vítimas para poder manter-se vivo. Estas pistas são confirmadas quando o corretor encontra nas masmorras do castelo um caixão coberto de terra, cujo interior está habitado por um cadáver , que perante o olhar desesperado de Hutter.
Orlock tem pressa de carregar vários caixões cheios de terra, em direção ao barco que o irá transportar para a calma cidade de Wisborg. Nosferatu transporta consigo a morte, a peste, as sombras, e a tirania, causando a loucura e o desejo pela morte dos tripulantes a bordo da embarcação. A chegada do barco à cidade é encarada com grande mistério por todos, visto que a embarcação chega vazia à cidade.
Ellen Hutter (Greta Schröder), curiosa sobre os misteriosos acontecimentos vem ocorrendo desde a partida do marido para a Romênia, descobre, através do livro sobre criaturas da noite, que poderá ser a única salvação de Hutter e do povo de Wisborg contra Nosferatu, visto que apenas uma mulher com um coração puro poderá atrair o vampiro e fazê-lo sucumbir perante a luz do dia.
Cativante, assustador e emocionante. A obra prima de Murnau é, com certeza, um dos maiores clássicos da humanidade.
Repercussão Contemporânea:
Grandes esforços foram aplicados para o lançamento do filme. Pouco antes da estreia, os responsáveis publicaram na vigésima primeira edição da revista Bühne und Film ("Palco e Filme") uma matéria com o resumo da obra, fotos de cenas e dos bastidores, relatórios e análises da produção, além de um ensaio sobre Vampirismo.
A pré-estreia de Nosferatu ocorreu no dia 4 de março de 1922 no salão de mármore do Jardim Zoológico de Berlim na chamada Festa do Nosferatu, para a qual foi pedido aos convidados o uso de roupas à moda Biedermeier. Um prólogo escrito por Kurt Alexander, inspirado em Vorspiel auf dem Theater do poeta alemão Goethe, abriu a projeção do filme, enquanto a orquestra Otto Kermbach tocava a trilha sonora à condução do compositor. A estreia oficial, por sua vez, ocorreu em 22 de março do mesmo ano.
O filme foi bem visto aos olhos do público e crítica de sua época, porém alguns criticaram as técnicas de enquadramento e luz.
A revista Film-Kurier de 6 de março de 1922 criticou o fato do vampiro ter sido retratado de forma tão humana e ter sido tão bem iluminado, o que não teria um efeito realmente assustador:
"O que pode ser uma vantagem para filmes fiéis à realidade precisa ser evitado em filmes que tratam de ficção. Neste caso, o artista deve priorizar a vagueza das nuances. Porque, com uma iluminação muito boa, qualquer elemento aterrorizante perde de uma vez todo seu terror." Zitiert in: Hans Helmut Prinzler (Hrsg.): Murnau – Ein Melancholiker des Films. Stiftung Deutsche Kinemathek, Bertz, Berlin 2003, ISBN 3-929470-25-X, p. 131.
Lenda sobre o Filme:
A palavra alemã schreck significa “susto, espanto”. Fundamentado nisso, no desconhecimento de sua pregressa carreira de ator e na repercussão de sua antológica interpretação e perfeita caracterização como Conde Orlok, muitos pensaram que Max Schreck era, na verdade, um vampiro que fora contratado por F. W. Murnau para dar maior veracidade à personagem e, assim, produzir uma obra-prima atemporal. O pagamento seria o direito de morder o pescoço e chupar o sangue da grande estrela do filme, a atriz Greta Schröder, na cena final.
Essa lenda serviu de inspiração para que Steven A. Katz elaborasse o roteiro de A sombra do vampiro (Shadow of the Vampire), filme de 2000, dirigido por E. Elias Merhige.
Nessa obra, John Malkovich interpreta um atormentado F. W. Murnau, que se divide entre a direção da equipe e o controle dos impulsos tenebrosos de Max Schreck, um vampiro que ele contratara para dar maior autencidade ao papel do Conde Orlok. O sublime desempenho de Willem Dafoe, que interpretou um bizarro Max Schreck, rendeu-lhe, como ator coadjuvante, uma indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro de 2001, além de algumas premiações.
Curiosidades:
- Nosferatu é a primeira versão da clássica história do Conde Drácula nos cinemas;
- Por não pagar os direitos autorais da história, Murnau perdeu a causa de um processo para a esposa de Stoker, e dessa forma foi proibida a divulgação do filme, pouco depois de seu lançamento. Esse processo resultou na apreensão e destruição da maioria das cópias;
- Acredita-se que a única cópia original completa de Nosferatu pertence ao colecionador Jens Geutebrück;
- Nosferatu foi refilmado uma outra vez, em Nosferatu - O Vampiro da Noite (Nosferatu: Phantom der Nacht - Werner Herzog, 1978). Além disso, o romance de Stoker obteve inúmeras adaptações cinematográficas. As mais famosas são: Drácula (Drácula - Tod Browning, 1931 ) e Drácula de Bram Stoker (Bram Stoker's Dracula - Francis Ford Coppola, 1992).
Onde comprar:
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Ficha técnica:
Nosferatu - eine symphonie des grauens, Alemanha, 1922, mudo, preto e Branco.
Direção: F. W. Murnau.
Roteiro: Henrik Galeen, baseado no romance "Dracula", de Bram Stoker (não-creditado).
Produção: Enrico Dieckmann; Albin Grau.
Música: Hans Erdmann.
Fotografia: Fritz Arno Wagner e Gunther Krampf.
Direção de Arte: Albin Grau.
Figurino: Albin Grau.
Elenco: Max Schreck, Alexander Granach,Greta Schroder, Gustav von Waggenheim, G. H. Schnell e Ruth Landshoff.
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